Ensaio Energético

Indicadores Semanais dos Combustíveis – 1ª semana de janeiro/2024: Um breve balanço de 2023 e o que está por vir em 2024.

Destaques

  • Em 2023, os preços da gasolina, do diesel e do GLP foram impactados por conflitos internacionais na Europa e Oriente Médio, por mudanças na maneira de tributação federal e estadual e pela nova política de precificação da Petrobras. No caso no etanol, uma boa safra de cana-de-açúcar barateou o energético;
  • Para 2024, há mudanças nos indicadores decorrentes do aumento do salário mínimo em 6,7% (que melhora a capacidade de pagamento dos consumidores), do fim da desoneração federal do diesel e do GLP e dos reajustes do ICMS dos combustíveis, em fevereiro;
  • Em comparação com os preços do Golfo do México, gasolina, diesel e GLP estão mais caros no Brasil;
  • Em onze estados é mais vantajoso abastecer com o etanol, com destaque para o Centro Oeste e para o Sudeste.

 

Preços dos combustíveis: um breve balanço de 2023 e o que vem por aí em 2024

O ano de 2023 foi marcado por grandes variações nos preços dos combustíveis. A adoção de uma nova política de precificação por parte da Petrobras, conflitos internacionais na Europa e Oriente Médio e modificações tributárias causaram turbulências no mercado doméstico de derivados, com grande impacto nos preços. Em síntese, os preços no mercado internacional (com a referência do Golfo do México) e nas refinarias apresentaram quedas. Grande parte se deve à valorização do real frente ao dólar em 2023, cuja cotação caiu de R$ 5,36, em 01/01, para 4,85 ao final do ano.

Contudo, no caso da gasolina aos consumidores finais, a queda do dólar foi mitigada pelo retorno total da cobrança de tributos federais e alterações nas alíquotas de ICMS, que passaram a ter um valor fixo, em reais por litro. O combustível terminou o ano 12,5% mais caro. Em contra partida, o diesel e o etanol, ao final de 2023, estavam mais baratos ao consumidor do que no começo do ano. As reduções foram de 6,24% e 11,6%, respectivamente. O caso do etanol é peculiar: mesmo com a reoneração federal total, que pressionou o preço pra cima, os efeitos da boa safra de cana de açúcar foram mais fortes, o que explica o barateamento ao longo de 2023.

O ano de 2024, por sua vez, se inicia com algumas mudanças que afetam diretamente os preços dos combustíveis. Em primeiro lugar, no dia 01/01/2024, foi encerrada a desoneração federal sobre o diesel e sobre o gás liquefeito de petróleo (GLP). No caso do diesel, a volta da incidência de PIS/Cofins resultou em um impacto de R$ 0,35 adicionais por litro. Para o GLP de 13kg, o adicional é de R$ 2,18. Em segundo lugar, um novo salário mínimo entrou em vigência, também no dia 01/01/2024. Com um reajuste de 6,97% em relação ao ano anterior, o novo salário mínimo é de R$ 1.412,00.

Além disso, outra mudança prevista para 2024 deve ocorrer logo em fevereiro: a do ICMS. Para a gasolina e para o etanol, o tributo estadual deve aumentar de R$ 1,22 para R$ 1,37 por litro; para o diesel, a variação esperada é de R$ 0,95 para R$ 1,06. Por quilograma de GLP, deverá incidir R$ 1,41 no lugar da cobrança atual de R$ 1,25. Reajustes no ICMS, fim da desoneração de PIS/Cofins para diesel e GLP, além de novo salário mínimo irão impactar nos indicadores dos combustíveis do Ensaio Energético.

 

Indicadores de Gap

Em 05/01/2024, a Petrobras não comunicou nenhum aumento no preço da gasolina suas refinarias. No cenário externo, a taxa de câmbio teve variações, com uma valorização do dólar frente ao real de 0,46%. No Golfo do México, o preço do galão de gasolina está mais caro em 1,56%. Com a valorização do dólar frente ao real e o aumento do preço do combustível no mercado internacional, o gap da gasolina diminuiu nesta semana, indo de 9,48% acima do Preço de Paridade de Importação para 7,32%. Portanto, a gasolina está se aproximando do PPI.

 

Para o diesel, o gap diminuiu 5,07 pontos percentuais, indo de 17,05% acima do PPI, na semana anterior, para 11,98% acima do PPI nesta semana. A diminuição do gap ocorreu por conta do recuo do preço nas refinarias da Petrobras, da valorização do dólar e do aumento do preço praticado no mercado internacional. No Golfo do México, o preço do galão do diesel avançou cerca de 4%% entre 29/12/2023 e 05/01/2024. A Petrobras comunicou uma diminuição do preço do galão do diesel de R$ 0,30.

 

O GLP, porém, não teve seu preço reajustado para baixo pela Petrobras, em 05/01/2024. No mercado internacional, o preço do galão teve um aumento de 0,15%. Com a valorização do dólar frente ao real e o aumento do preço praticado no mercado internacional, o gap do GLP apresentou uma diminuição. Atualmente, o botijão de 13kg está 15,06% acima do PPI.

 

Indicadores de Capacidade de Pagamento

Os indicadores de capacidade de pagamento desta primeira semana de janeiro de 2024 sofreram impacto duplo. Além das flutuações de preços que ocorrem naturalmente, houve o reajuste salarial. Desde o dia 01/01/2024, o salário mínimo diário subiu de R$ 44,00 para cerca de R$ 47,07. Com isso, houve uma melhoria no poder de compra.

Essa melhoria na capacidade de pagamento foi combinada com reduções no preço dos energéticos aos consumidores finais. O GLP está 0,21% mais barato, sendo vendido a R$ 100,77. A gasolina viu seu preço reduzir 0,36% nesta semana e o preço médio do litro é R$ 5,56. A maior queda, no entanto, foi do etanol, indo de R$ 3,42 para R$ 3,39, o que equivale a 0,88% de queda.

Para o caso do Brasil, é necessário dispender 11,81% do salário mínimo diário para comprar um litro de gasolina. No âmbito estadual, Goiás, Sergipe e Piauí são os estados em que a gasolina é mais barata e, por isso, possuem melhores capacidades de pagamento. No caso de Goiás, o indicador de capacidade de pagamento é de 10,94%. Por outro lado, Ceará (12,54%), Rondônia (13,66%) e Acre (14,38%) possuem a gasolina mais cara do país.

 

No caso do etanol, a capacidade de pagamento nacional é de 7,20%. No caso dos estados, há maior vantagem para Mato Grosso (6,46%), Goiás (6,46%) e Mato Grosso do Sul (6,93%), que apresentam o etanol mais barato. Na outra ponta, Roraima (10,28%), Rondônia (10,47%) e Amapá (11,35%) possuem os menores indicadores de poder de compra a nível estadual. No caso do etanol, nota-se uma situação muito favorável no Centro-Oeste e bem desfavorável para os consumidores da região Norte.

 

Um consumidor médio brasileiro precisa trabalhar cerca de 2,14 dias, a nível de salário mínimo, para conseguir comprar um botijão de 13kg de gás de cozinha. Esse número, no entanto, é menor em alguns estados, com destaque para Pernambuco, Alagoas e o Rio de Janeiro, em que o GLP é mais barato. Respectivamente, são necessários 1,85, 1,94 e 1,96 dias de trabalho nesses estados para adquirir o insumo. Na parte de baixo do ranking, novamente há uma desvantagem em termos de poder de compra para a região Norte. Em Rondônia (2,53), Amazonas (2,64) e Roraima (2,75) são necessários mais dias de trabalho para adquirir o insumo, dado que o preço é mais elevado nessas localidades.

 

Indicador de Competitividade do Etanol frente à Gasolina

Na semana do dia 06/01/2024, a redução média no preço do etanol (0,88%) foi superior à redução média no preço da gasolina (0,36%). Com isso, houve melhoria na competitividade média do etanol frente à gasolina. Em seis estados (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo) é muito mais vantajoso optar pelo etanol ao abastecer o carro. Ademais, também há mais economias para o consumidor em Alagoas, no Distrito Federal, na Paraíba, em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Nos demais estados, a gasolina é mais vantajosa, em termos econômicos, para o consumidor.

 

Para mais detalhes acerca da metodologia de cálculo dos três indicadores, clique aqui

 

Sugestão de citação: Raeder, F.; Alves, B.; Motta, W. Indicadores Semanais dos CombustíveisBoletim de Indicadores, 1ª semana de janeiro/2024: Um breve balanço de 2023 e o que está por vir em 2024. Ensaio Energético, 12 de janeiro, 2024.

 

 

 

Autor Fixo e Editor dos Indicadores do Ensaio Energético. Formado em Economia, Mestre e Doutorando em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É professor substituto da Faculdade de Economia da UFF e pesquisador do Grupo de Energia e Regulação (GENER/UFF).

Bruno Alves

Estudante a nível de bacharelado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Fluminense e integrante do Grupo de Pesquisa em Energia e Regulação (GENER/UFF).

Wolney Motta

Estudante a nível de bacharelado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Fluminense e integrante do Grupo de Pesquisa em Energia e Regulação (GENER/UFF).

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