Na esteira da agenda climática internacional, políticas de descarbonização têm crescido no mundo todo. Contudo, por mais que os riscos envolvendo a situação climática global sejam urgentes e incontestáveis, suas causas variam de país para país e – como tal – seus remédios também podem variar. O presente artigo espera provar que o mercado de carbono regulado não se configura como o melhor formato de incentivo à redução de emissões no setor elétrico brasileiro, dadas suas especificidades. Esta conclusão é fundamentada em três argumentos: (i) que o caráter renovável da matriz elétrica brasileira sugere constante necessidade de complementação termelétrica, fato que impede o país de prospectar um futuro para o setor elétrico nacional, ao menos no curto prazo, que desconsidere combustíveis fósseis; (ii) que diferentemente dos países desenvolvidos, que em geral pautam o debate climático no planeta, o Brasil não encontra no setor elétrico seu maior desafio à descarbonização, inclusive por ostentar uma das matrizes mais renováveis do mundo; e (iii) que os significativos índices de pobreza energética no Brasil, aliados ao perfil do consumo de eletricidade no país e ao potencial impacto do preço da energia ao bem-estar dos brasileiros, conferem ao setor elétrico um viés único quando comparado aos demais setores passíveis de inclusão em eventual mercado de carbono regulado. Direto ao ponto, o benefício esperado de um mecanismo de controle de emissões sobre o setor elétrico no Brasil pode incorrer em redução de bem-estar social para pequena contrapartida de despoluição.