Ensaio Energético

O novo mercado de ‘GNL carbono neutro’ e suas perspectivas de desenvolvimento

Introdução

A evolução das políticas nacionais de mitigação de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a mudança do posicionamento corporativo em direção a uma transição energética de baixo carbono estão trazendo uma maior ênfase na contabilização e controle das emissões associadas à produção e fornecimento de gás natural liquefeito (GNL). À medida que os agentes desse mercado (ofertantes, compradores, reguladores) buscam compreender a pegada de carbono relacionados aos suprimentos de gás, o custo de se mitigar emissões de GEE ao longo da cadeia se torna mais claro, podendo dinamizar iniciativas no que tem sido nomeado como GNL carbono neutro (Carbon Neutral LNG).

Considerando (i) que o gás natural é considerado um energético fundamental na substituição de fontes mais emissoras, promovendo o processo de descarbonização e (ii) que os mercados internacionais de GNL tem crescido e se tornado cada vez mais integrados, novas modalidades de contratação de gás natural podem ter impacto significativo no futuro do gás natural globalmente.

Este artigo tem como objetivo apresentar o que seria o GNL carbono neutro, seus desenvolvimentos e desafios. A primeira seção apresenta o contexto recente quanto a agenda climática e da transição energética de baixo carbono e implicações para o mercado de GNL e a indústria de petróleo e gás natural. Já a segunda seção apresenta a estrutura da cadeia de valor do GNL dando foco nas suas possíveis fontes de emissões de GEE. A terceira seção descreve a nova dinâmica das transações de GNL carbono neutro, enquanto a quarta seção aborda como e em quais condições tais cargas podem ser declaradas neutras. Finalmente, nas conclusões são discutidos os desafios desse novo mercado.

 

1. Mitigação de emissões e a agenda da transição energética

As respostas internacionais às mudanças climáticas têm colocado uma grande pressão sobre o setor de petróleo e gás natural e terão impacto significativo nas perspectivas de produção e consumo de hidrocarbonetos para o futuro.

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) em Glasgow, ocorrida em novembro de 2021, reforçou os elementos do Acordo de Paris elevando a importância de padronizar o tratamento das metas nacionais de emissões e da coordenação dos países para combater e se adaptar à mudanças no clima global em torno de mercados.

Compromissos com trajetórias de emissões líquidas zero (net zero) foram amplamente apresentados por países e corporações. Até antes da COP 26, pelo menos 44 países e a União Europeia, representando 70% das emissões globais de carbono, haviam se comprometido a trajetórias net zero em 2050. Ao longo dos últimos anos diversas companhias petrolíferas (tais como BP, Eni, Shell e Total) também assumiram compromissos net zero até 2050 (Cunha, Schaeffer e Szklo, 2021).

Ainda neste contexto, a pedido dos organizadores da COP 26 foi solicitada à Agência Internacional de Energia (International Energy Agency – IEA) uma visão sobre quais seriam as principais ações a serem tomadas para limitar o aquecimento terrestre a 1,5°C neste século sob a premissa de emissões líquidas zero (Net Zero) até 2050. No cenário IEA Net Zero 2050, uma reestruturação radical dos mercados mundiais de energia seria necessária, incluindo a necessidade de soluções inovadoras para a mitigação de emissões (IEA, 2021).

Uma das questões que foram destaque na COP 26, foi a regulamentação e implementação do Artigo 6 do Acordo de Paris para a criação de um mercado internacional de carbono. As discussões giraram em torno da padronização para o comércio de créditos de carbono entre os países, incluindo diretrizes para evitar a dupla contagem e promoção de cancelamento de unidades.

 

2. Seguindo a pegada de carbono do GNL

O gás natural costuma apresentar níveis de emissões de carbono relativamente menores que os principais energéticos (petróleo e carvão), sendo chamado de “combustível da transição”.

No entanto, considerando emissões de ciclo de vida, a produção de gás natural, liquefação e transporte de GNL, regaseificação e consumo resultam em emissões significativas de gases de efeito estufa. De acordo com o Grupo Internacional de Importadores de GNL (GIIGNL), em média, as emissões do ciclo de vida de uma carga de GNL convencional (em torno de 175.000 m³) é de aproximadamente 270.000 toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e).

Cada etapa na cadeia de valor do GNL tem níveis distintos de emissões associadas. A Figura 1 apresenta o esquema completo da cadeia e os gases de ciclo de vida do GNL que são contabilizados e posteriormente traduzidos em CO2e.

 

Figura 1: Etapas do ciclo de vida do GNL

Fonte: GIIGNL (2021).

 

As fontes de emissão a serem contempladas incluem aquelas dos seguintes processos ao longo da cadeia:

  • Combustão estacionária e flare, incluindo emissões de metano não queimado de flares e de navios;
  • Combustão móvel, incluindo transporte de produto (GNL, evaporação por boil off e consumo de combustíveis líquidos) e serviços de suporte aplicáveis (terrestre / marítimo / aéreo);
  • Ventilação;
  • Perdas fugitivas;
  • Emissões associadas à energia importada (eletricidade, vapor, calor, refrigeração)

A Tabela 1 apresenta referências quanto a emissões da cadeia do GNL, desde a produção do gás natural (upstream), transporte e tratamento do gás, passando pelo processo de liquefação, transporte por navios, regaseificação e combustão pelo consumidor final.

 

Tabela 1: Emissões de CO2e na cadeia de valor do GNL

Fonte: Timera Energy (2021).

 

A contabilização de emissões de GEE se dá tradicionalmente a partir da agregação das emissões a partir de escopos:

  • Escopo 1: são emissões diretas de fontes próprias ou controladas;
  • Escopo 2: são emissões indiretas da geração de energia comprada;
  • Escopo 3: são todas as emissões indiretas (não incluídas no escopo 2) que ocorrem na cadeia de valor da empresa relatora, incluindo as emissões a montante e a jusante (e.g. consumidor final).

Dado que para o comércio do produto existem um comprador e um vendedor e, portanto, emissões de escopo 3 para o vendedor equivalem ao escopo 1 de seu comprador, além do agrupamento por escopos, duas outras categorias são comumente utilizadas para delimitar a cobertura da contabilização de emissões de GNL, são elas:

  • desde a produção até a regaseificação: conhecida como “poço ao tanque” (well to tank – WTT) ou emissões DES (entregues ex-navio)
  • desde a produção até a combustão de gás natural a jusante: ou simplesmente emissões de ciclo de vida completo.

Normalmente o cálculo ou medição das emissões de escopo 3 (ou seja, do consumo final) é relativamente mais simples pois considera as características do gás natural entregue e o processo de combustão adotado. No entanto, medir ou estimar as emissões restantes do ciclo de vida de GNL (ou seja, emissões WTT) é mais complexo, pois incluem vários processos (como ilustrado na Figura 1).

Em sua forma original o gás natural é composto sobretudo por metano (>90%) e por uma mistura de gases, podendo conter nitrogênio, oxigênio, enxofre, dióxido de carbono (CO2), etc. Dependendo do reservatório onde é extraído, o teor de CO2 do gás natural pode variar muito. Por exemplo, em algumas áreas do pré-sal brasileiro esse teor pode superar 40%. Como o CO2 é corrosivo, sua remoção é necessária para o transporte do gás natural via gasodutos. A prática de separação, remoção, captura e estocagem (CCS) do CO2 tem sido adotada no Brasil e em campos como o de Snøhvit (Noruega) e Gorgon (Austrália). No entanto, em outros campos produtores pelo mundo, a prática comum é a ventilação do CO2 removido.

Parte substancial do gás é consumida na própria produção de GNL (tipicamente 8-12% do total de gás de alimentação) como combustível das turbinas de liquefação. Para se estimar a intensidade de emissões de instalações de GNL toma-se como base as emissões desde a entrada do gás natural nas unidades de liquefação até a conexão de transferência de carga aos navios metaneiros. A Figura 2 apresenta uma comparação entre diversas instalações de liquefação no mundo e suas emissões estimadas para cada tonelada de GNL produzida.

 

Figura 2: Estimativas das Emissões de Gases de Efeito Estufa de Instalações de GNL

Fonte: Delphi Group (2013), CSUR (2019) e Stern (2019).

 

As emissões associadas ao transporte marítimo de GNL serão bastante impactadas pelo consumo de combustível proporcional às distâncias percorridas para entrega de cada carga de GNL. Além disso, apesar de muitas vezes também servirem como próprio combustível dos navios, a evaporação por ebulição (boil off), resulta em emissões relevantes e numa perda de até 0,15% da carga de GNL por dia (navios mais modernos já apresentam perda de <0,1%).

O metano tem uma vida relativamente curta na atmosfera, mas altamente potente para efeito estufa (efeito de aquecimento 28-36 vezes superior ao do CO2). Embora o objetivo dos projetos de gás natural seja de produzir e vender metano, uma parcela é inevitavelmente perdida devido a vazamentos. Emissões fugitivas são definidas como emissões não intencionais que não poderiam passar razoavelmente por um flare ou outro canal equivalente[1]. Tem crescido o ímpeto em se busca combater este tipo de emissões, tanto por seu benefício ambiental e de segurança, quanto benefício econômico na venda de produto.

Embora existam diferentes metodologias para contabilização de emissões, a indústria de GNL tem evoluído na discussão de padronização para garantir a agregação e comparabilidade das emissões de GEE entre transações, empresas e jurisdições[2]. Na ausência de meio práticos de medição das emissões, estimativas baseadas em fatores de emissão são frequentemente adotadas, como os fatores de emissão médios recomendados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)[3] ou aqueles publicados pelo Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial do Reino Unido (BEIS).

 

3. Transações de GNL carbono neutro

Contratos de GNL carbono neutro são baseados na contabilização, mitigação e compensação das emissões de GEE do fornecimento ao consumo. Compensações se dão através da aquisição e utilização de créditos de carbono originados por projetos de redução de emissões. Portanto, ‘carbono neutro’ não significa que a carga de GNL não gera emissões, mas que, além das possibilidades de melhorar o desempenho de emissões nos processos ao longo da cadeia, pode internalizar custos de mitigação de emissões em outras atividades/projetos como forma de compensar suas próprias emissões.

Atualmente, contratos de GNL carbono neutro são uma pequena parte do mercado de GNL internacional. Até o momento, apenas 30 cargas foram declaradas neutras em carbono, o que representa menos de 1% do comércio global de GNL (Reuters, 2021).

A Tabela 2 apresenta um mapeamento de transações de GNL carbono neutro e algumas características específicas.

 

Tabela 2: Mapeamento de Transações de GNL Carbono Neutro

Fonte: Bose et al (2021) em várias fontes.

 

É possível identificar a presença consistente de grandes companhias petrolíferas (e.g. Shell) neste novo mercado, além de uma grande concentração de transações na Ásia. A pequena proporção de compradores europeus pode ser em parte explicada pela cobertura existente do sistema de créditos de carbono nos setores industriais e de energia da região (EU ETS). No caso da Ásia, países como o Japão e Coréia do Sul ainda não desenvolveram mecanismos maduros de precificação de carbono que reflitam suas metas de redução de emissão (Blanton & Mosis, 2021). Desta forma, a contratação voluntária de cargas carbono-neutras configura-se em uma forma atraente de demonstrar compromisso quanto ao clima. Em março de 2021, quinze empresas japonesas[4] em diferentes setores criaram um grupo chamado Carbon Neutral LNG Buyers Alliance com o objetivo de promover a modalidade e uso do combustível (S&P Global, 2021).

Quanto aos escopos das transações, a maioria dos contratos cobriu o ciclo de vida completo (escopos 1 a 3). Poucas não incluíram emissões no consumo (escopo 3) e apenas uma transação cobriu somente as emissões provenientes do consumo final. Essas diferenças de escopo impactam na quantidade de emissões requeridas para mitigação e compensação, além de impactar a aceitabilidade da classificação de neutralidade.

Para que uma carga possa ser declarada como neutra em carbono, ela precisa apresentar transparência na contabilização e informações de suas emissões. Em novembro, o Grupo Internacional de Importadores de Gás Natural Liquefeito (GIIGNL) publicou um framework para padronizar e trazer critérios para contabilização, verificação independente e transparência das emissões a serem compensadas em transações de GNL carbono neutro.

Dada a grande variedade de tecnologias e atividades relacionadas a cargas de GNL, emissões podem variar amplamente. Sendo assim, a declaração por emissões personalizadas ou medidas para cada carga (ou seja, WTT) seria o método mais indicado de registro pela precisão. Normalmente, este tipo de registro requer certificação de um terceiro independente para garantir a integridade dos valores e mitigar o risco de greenwashing. Dado que este mercado está ainda em processo de amadurecimento, emissões estimadas são comumente utilizadas.

 

4. Mitigando e compensando emissões do GNL

Para uma carga de GNL ser declarada como carbono neutra, como descrito anteriormente, ela deve mapear cada um de seus processos e avaliar quais seriam suas emissões de ciclo de vida e, na medida que não seja viável ou factível a eliminação de emissões, buscar alternativas de compensar suas emissões com algum tipo de investimento em redução de emissões (offsets).

No âmbito de iniciativas e principais tecnologias de descarbonização que podem ser adotadas dentro da cadeia de valor do GNL, temos (EY, 2021):

  • Upstream: infraestrutura CCS de captura de CO2 dos processos de extração de matéria-prima, eliminação de ventilação e queima;
  • Midstream: utilização de energia renovável para processos de liquefação e regaseificação em terminais, seja de fonte própria ou contratada por meio de contratos de energia, soluções de eficiência energética em terminais para processos intensivos em energia, minimização ou recuperação da evaporação do gás (boil off), uso de combustíveis com baixo teor de carbono no transporte marítimo;
  • Downstream: melhoria da eficiência da combustão através da cogeração e trigeração, melhor qualidade do duto para minimizar vazamentos.

A depender do desempenho em emissões que uma determinada carga de GNL possa oferecer, se vislumbra a possibilidade de que emissões se tornem um “atributo” ou característica específica (semelhante ao teor de enxofre ou grau API para o petróleo bruto), impactando o valor do GNL (Bose et al, 2021).

Já no âmbito da compensação por créditos de carbono, são comuns os investimentos em projetos de redução de emissões (e.g. eficiência energética, energias renováveis) ou de sequestro de carbono (e.g. florestas). Um comprador que obtém créditos de carbono pode aposentá-los para reivindicar reduções em suas próprias emissões de GEE ou revendê-los. Para evitar a dupla contagem de reduções de emissões sob o mesmo crédito de carbono, existem registros dedicados administrados por entidades autorizadas.

A qualidade dos créditos de carbono é um dos aspectos-chave para garantir credibilidade da declaração de neutralidade de emissões. As objeções mais comuns estão relacionadas à falta de reduções válidas de GEE e aos impactos negativos dos projetos em comunidades locais.

O critério essencial de um crédito de carbono é o de sua “adicionalidade”, i.e., a demonstração que o investimento neste ativo não seria desenvolvido em condições normais sem a valorização do seu benefício ambiental adicional (ou seja, seu impacto em emissões de GEE). Além deste também são considerados os princípios em torno da medição, permanência, verificação independente e exclusividade (não reivindicação por outro entidade).

Em um ciclo de vida médio de uma carga de GNL, são emitidos aproximadamente 270.000 toneladas de CO2e, o que exigiria algo em torno de 240.000 árvores para compensar tais emissões (Wood Mackenzie, 2020). Os tipos mais populares de projetos de compensação usados ​​para alcançar a neutralidade de carbono do GNL vêm de projetos de reflorestamento e restauração de habitat em países como China, Gana, Indonésia e Peru (EY, 2021).

Florestas, pastagens e outros projetos de compensação baseados na natureza são considerados como sequestradores de carbono durante décadas, mas seus créditos ainda considerados vulneráveis, por exemplo por apresentarem riscos de reversões (e.g. desmatamento, extração ilegal de madeira, etc.) o que requerer a devida contabilização e gerenciamento.

Bose et al (2021) estimam que o custo de uma carga de GNL carbono neutro para Ásia teria um prêmio em torno de 6% acima do custo da commodity para compensar as emissões de ciclo de vida do GNL. Embora os preços das negociações de GNL carbono neutro permaneçam confidenciais, o “prêmio verde” indicado pelo mercado seria algo na faixa de 0,50 $/MMBtu (i.e. preço do carbono na faixa de 6-7 $/ tCO2e) (Blanton & Mosis, 2021).

 

 

5. Conclusões

À medida que governos e empresas busquem alternativas para descarbonização dos sistemas energéticos em atendimento à suas metas de emissões, inovações de mercado como as de contratos de gás natural liquefeito (GNL) com neutralidade de carbono ganharão força. O gás natural é visto por alguns como sendo a ponte para uma ampla transição que garante a segurança energética com um menor nível de emissões. Mesmo que constitua uma pequena parcela do mercado de GNL, a modalidade carbono neutra pode assumir um papel relevante no mercado internacional de gás natural nas próximas décadas.

Muitos grupos são céticos quanto à prática, sobretudo no que se refere a compensações de carbono, pois consideram que apenas prolonga o uso de combustíveis fósseis. No entanto, a transição energética de baixo carbono está sobretudo associada ao desempenho de emissões e não necessariamente a uma fonte ou tecnologia específica. Neste sentido, ações voltadas a melhor contabilização, redução e, se necessário, compensação fazem parte do esforço de controlar a trajetória de emissões de GEE globalmente.

A aplicação de compensações e criação de mercados de carbono não se restringem aos movimentos de um mercado específico como o de GNL, tendo crescido consistentemente nas últimas décadas, ganhando estrutura e ampliando a cobertura de setores em diversas partes do mundo.

A aquisição de créditos de carbono não elimina as emissões da cadeia do GNL e, portanto, a adoção destas compensações não pode ser dissociada do esforço de se reduzir a intensidade de emissões da cadeia. Os mercados de compensação de carbono devem ser vistos como uma alternativa de mais curto prazo, não como a estratégia principal para equilibrar as emissões. Buscar soluções tecnológicas que reduzam emissões do upstream ao consumo final, resulta em vantagens competitivas duradouras para o GNL. O debate sobre a neutralidade de carbono ao longo da cadeia é importante pois traz luz às questões de responsabilização das emissões e de quem deve arcar com seus custos e busca por melhorias de desempenho.

Atualmente, a alternativa de compensação (offset) por soluções florestais tem sido a opção de menor custo para o GNL carbono neutro. No entanto, considerando as discussões ao longo da COP 26 sobre mercados de carbono (Artigo 6), apesar das tentativas, os projetos relacionados à desmatamento e degradação florestal (REDD+) não foram incluídos, carecendo de regulamentação  pela sua vulnerabilidade na contabilização e monitoramento.

As novas regras e padronização (e.g. framework GIIGNL) que têm sido desenvolvidas, reduzem gradualmente os riscos de greenwashing que a modalidade carbono-neutra está sujeita. Além disso, uma maior transparência quanto aos custos associados às compensações pode ser benéfica para dinamizar esse mercado e dar maior credibilidade as transações.

Finalmente, apesar de atualmente os negócios de GNL carbono neutro se concentrarem na região asiática, existe um grande potencial de multiplicação desse tipo de transação e inclusive perspectivas quanto à adoção da classificação de emissões como um atributo de valor do GNL. No entanto, estes desenvolvimentos dependerão não somente das condições desse mercado e das preferências dos importadores de GNL, mas também da evolução das regras nacionais e dos mercados de carbono de forma mais ampla.

 

Notas

[1] Qualquer equipamento pressurizado tem o potencial de vazar, geralmente ocorrendo por meio de hastes de válvula, flanges, conexões roscadas, vedações do eixo de bombas ou compressores. As emissões fugitivas também se originam de fontes evaporativas difusas.

[2] Exemplo de padronização são aqueles da Organização Internacional de Padronização, ISO14040/ ISO 4044, que fornecem estrutura para a avaliação do ciclo de vida. A metodologia para medir a pegada de carbono para produtos, como o gás natural, é dada na ISO 14067, que se baseia na ISO 10404/44. Definições para classificação de produtos neutros em carbono são fornecidas na ISO 14021 que se refere a ISO 14067, exigindo que todo o ciclo de vida dos produtos seja coberto (i.e. incluindo a combustão do gás) (Blanton & Mosis, 2021).

[3] Para mais detalhes na contabilização da pegada de carbono nos processos de GNL ver relatório da American Petroleum Institute (API, 2015). Para detalhes nos procedimentos de contabilização e declaração ver o framework para Carbon Neutral LNG da GIIGNL (GIIGNL, 2021).

[4] A Carbon Neutral LNG Buyers Alliance é formada por: Tokyo Gas Co Ltd, Asahi Group Holdings Ltd, Isuzu Motors Ltd, Olympus Corp, Sakai Chemical Industry Co Ltd, Duskin Co Ltd, Tamagawa Academy & University, Toshiba Corp, Toho Titanium Co Ltd, New Otani Co Ltd, Marunouchi Heat Supply Co Ltd, Sumitomo Mitsui Trust Bank Ltd, Mitsubishi Estate Co Ltd, Yakult Honsha Co Ltd, Lumine Co Ltd.

 

Referências bibliográficas

API (2015) Liquefied Natural Gas (LNG) Operations. Consistent Methodology for Estimating Greenhouse Gas Emisions. Maio 2015. https://www.api.org/~/media/Files/EHS/climate-change/api-lng-ghg-emissions-guidelines-05-2015.pdf

Blanton, E; Mosis, S. (2021) The carbon-neutral LNG market: creating a framework for real emissions reductions. Comentário. Columbia Center on Global Energy Policy – CGEP. Julho 2021. https://www.energypolicy.columbia.edu/research/commentary/carbon-neutral-lng-market-creating-framework-real-emissions-reductions

Cunha, B.; Schaeffer, R.; Szklo, A. (2021) O passado, o presente e o futuro da indústria de O&G frente à crise climática. Ensaio Energético. Novembro 2021.  https://ensaioenergetico.com.br/o-passado-o-presente-e-o-futuro-da-industria-de-og-frente-a-crise-climatica/

CSUR (2019) Canada’s Green LNG Advantage. Canadian Society for Unconventional Resources. Novembro 2019 https://s3.amazonaws.com/media.dailyoilbulletin.com/pdf/LNG_Special+Report_2.pdf

Timera Energy (2021) The value impact of LNG carbon emissions. Março 2021

https://timera-energy.com/the-value-impact-of-lng-carbon-emissions/

Delphi Group (2013) LNG Emissions Benchmarking.  Prepared for BC Climate Action Secretariat. Março 2013

https://www2.gov.bc.ca/assets/gov/environment/climate-change/ind/lng/lng_emissions_benchmarking_-_march_2013.pdf

EY (2021) The role of carbon neutral LNG in the energy transition. Novembro 2021 https://www.ey.com/en_pl/law/the-role-of-carbon-neutral-lng-in-the-energy-transition

GIIGNL (2021) MRV and GHG Neutral LNG Framework. Novembro 2021 https://giignl.org/wp-content/uploads/2021/11/MRV-and-GHG-Neutral-Framework.pdf

IEA (2021) Net Zero by 2050. A Roadmap for the Global Energy Sector. International Energy Agency – IEA. Paris, Maio 2021. https://www.iea.org/reports/net-zero-by-2050

IPCC Emission Factor Database, https://www.ipcc-nggip.iges.or.jp/EFDB/main.php

Reuters (2021) LNG industry launches ‘carbon neutral’ framework. Novembro 2021 https://www.reuters.com/business/cop/lng-industry-launches-carbon-neutral-framework-2021-11-17/

Stern, J. (2019) Challenges to the Future of LNG: decarbonisation, affordability and profitability. Oxford Institute for Energy Studies. OIES PAPER: NG 152. Outubro 2019.

https://www.oxfordenergy.org/wpcms/wp-content/uploads/2019/10/Challenges-to-the-Future-of-LNG-NG-152.pdf

S&P Global (2021) Japanese companies form buyers’ group to promote carbon neutral LNG. Março 2021. https://www.spglobal.com/platts/pt/market-insights/latest-news/natural-gas/030921-japanese-companies-form-buyers-group-to-promote-carbon-neutral-lng

WoodMackenzie (2020) What is carbon-neutral LNG? Opinion.

https://www.woodmac.com/news/opinion/what-is-carbon-neutral-lng/

 

Sugestão de citação: TAVARES, F. B. (2021). O novo mercado de ‘GNL carbono neutro’ e suas perspectivas de desenvolvimentoEnsaio Energético, 06 de dezembro, 2021.

Autor do Ensaio Energético. Economista e doutor em Economia pela UFRJ, mestre em Economia e Gestão de Indústrias de Rede pela Universidade de Comillas (Espanha) e Paris Sul XI (França) e Fulbright scholar na Universidade de Columbia (Estados Unidos).

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1 ano atrás

[…] Todos os cenários que analisam a atual emergência climática definem como prioritária a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), tendo a mitigação de emissões de metano um papel de destaque. Emissões de metano são particularmente relevantes no setor de petróleo e gás natural e geralmente os compromissos climáticos das companhias priorizam sua minimização (Cunha, Schaeffer, Szklo, 2021; Tavares, 2021). […]

Renato Silva
Renato Silva
7 meses atrás

Excelente artigo. Parabéns!!!

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