Ensaio Energético

Indicadores Semanais dos Combustíveis – 3ª semana de maio/2023

Destaques

  • A Petrobras comunicou no dia 16/05/2023 uma mudança na sua política de preços, em substituição ao Preço de Paridade de Importação.
  • O preço interno da gasolina está abaixo do PPI. O diesel, por sua vez, segue próximo à referência. Por fim, o GLP segue com gap muito acima do PPI. Ainda não há tendência clara dos novos rumos dos preços internos.
  • Os reajustes feitos pela Petrobras em 16/05/2023 ainda não tinham chegado aos consumidores finais em 20/05/2023. Existe uma tendência de que o repasse ao longo da cadeia de comercialização ocorra com um certo delay.

 

1. Indicadores de Gap

Nos últimos anos, a política de preços dos derivados no Brasil esteve pautada pelo Preço de Paridade de Importação (PPI), em que os preços internos se alinhavam às referências do mercado internacional. No entanto, em 16 de maio de 2023, a Petrobras comunicou ao mercado que abandonaria a precificação baseada no PPI. A estatal aprovou uma nova estratégia de precificação, baseada em dois pilares: (i) custo alternativo do cliente e; (ii) valor marginal para a empresa.

De acordo com a Petrobras, o custo alternativo inclui outras possibilidades de suprimento, como fornecedores dos mesmos produtos ou de produtos substitutos. Por sua vez, o valor marginal é balizado no custo de oportunidade de outras alternativas à Petrobras, como a produção, importação e exportação do derivado em questão. Vale ressaltar que não há periodicidade definida para os reajustes nessa nova estratégia.

Na teoria, parece não haver muita diferença da nova estratégia em relação ao PPI. Na prática, no entanto, ainda há uma certa incerteza em relação à futura trajetória dos preços. É nesse sentido que os indicadores de gap, que ainda continuarão a ser publicados semanalmente, irão mostrar os novos rumos para os preços dos combustíveis. A partir do gap dos combustíveis, será possível monitorar um eventual descolamento das referências internacionais. Maiores detalhes sobre os motivos pelos quais um afastamento muito grande dos preços domésticos das referências é prejudicial foram apresentadas no artigo de lançamento dos indicadores dos combustíveis.

 

Na semana do dia 19/05/2023, o gap da gasolina teve uma redução de 14,07 pontos percentuais, passando de 4,93% para -9,14%. Ou seja, o preço interno da gasolina deixou de estar acima do PPI, e agora está inferior à referência internacional. Essa foi a maior variação no gap da gasolina considerando as últimas 10 semanas, deixando o preço interno mais afastado do Preço de Paridade de Importação. Essa mudança é, principalmente, reflexo da nova política de preços da Petrobras, que reduziu o preço interno da gasolina em 12,5%

Além disso, houve uma pequena redução de 0,55% no preço da commodity no Golfo do México. No que diz respeito ao câmbio, houve uma valorização do dólar frente ao real, com a moeda estrangeira aumentando cerca de 1,58%. Portanto, a variação semanal do gap da gasolina é mais explicada pela variação no mercado interno, sendo esta consideravelmente maior do que a variação no mercado externo.

 

Por sua vez, o gap do diesel sofreu alterações, caindo de 18,69% acima do PPI na semana de 12/05/2023 para 1,29% acima do PPI em 19/05/2023. Isso indica que os preços domésticos do diesel estão bem próximos dos preços praticados no mercado internacional. Essa tendência de redução do gap pode ser observada nas últimas quatro semanas. O preço do diesel do Golfo do México aumentou em torno de 0,73%. Já o preço interno apresentou queda de cerca de 12,67%. Logo, o novo preço interno é a maior influência para a diminuição do gap do diesel nesta semana.

 

Na semana de 12/05/2023, o gap do GLP verificado foi de 45% acima do PPI. Já em 19/05/2023, o indicador atual está pouco abaixo a 30%. No mercado internacional, o preço do GLP apresentou uma redução de 13,11% em relação à semana anterior. Já no mercado interno, houve uma redução de 21,09%. Em relação ao dólar, a valorização 1,58% não foi tão significante no resultado do gap do GLP. Portanto, a redução do gap também é explicada em grande parte pelo reajuste praticado pela Petrobras.

O padrão que os preços dos derivados irão seguir ainda não está claro. Enquanto a gasolina está mais de 9% abaixo do PPI, o GLP está quase 30% acima. O diesel, por sua vez, nesta semana se mostrou alinhado ao mercado internacional. Portanto, indicadores de gap das próximas semanas ajudarão a entender a tendência dos preços domésticos após a implementação da nova estratégia de precificação da Petrobras.

 

2. Indicadores de Capacidade de Pagamento

O indicador de capacidade de pagamento em relação à gasolina chega na sua terceira semana seguinte apresentando melhorias. Na semana de 13/05/2023, na média, um brasileiro precisava dispender 12,48% de seu salário mínimo diário para adquirir 1 litro de gasolina. Nesta semana, com queda de 0,07 pontos percentuais, agora é necessário que um consumidor separe 12,41% de seu salário mínimo diário para a mesma compra. Com o salário mínimo diário sem alterações, a melhoria é reflexo da queda de preços na refinaria, que são transmitidos até chegarem à bomba. Embora os preços tenham caído R$ 0,40 nas refinarias, a redução do preço final ao consumidor recuou R$ 0,03, ou 0,55%, na média nacional até 20/05/2023. No entanto, cabe destacar que a transmissão de preços não costuma ser instantânea e existe um atraso no repasse. É possível que, na próxima semana, seja observada uma nova melhoria na capacidade de pagamento, caso o preço não suba nas refinarias nesse meio tempo.

No âmbito estadual, o destaque positivo é Pernambuco. O Estado apresentava a 5ª melhor capacidade de pagamento na semana passada, com 11,91%, enquanto hoje assume a liderança, com 11,52%. Esse é um indicativo de que o reajuste chegou mais rápido no estado do que na média nacional. O destaque negativo fica com a região Norte, em especial Amazonas, Acre e Rondônia. Mesmo com a queda de preços da gasolina na refinaria, a capacidade de pagamento nestes três estados piorou em relação à semana anterior.

 

Embora o etanol não tenha seu preço atrelado às decisões da Petrobras, foi o combustível que apresentou maior redução de preços na semana do dia 20/05/2023. O preço médio do litro no país recuou de R$ 4,09 para R$ 3,99, o que corresponde a uma variação de -2,44%. Essa redução gerou uma melhoria na capacidade de pagamento nacional em relação ao etanol. Em 13/05/2023, era necessário separar 9,30% do salário mínimo diário para comprar 1 litro de etanol. Já em 20/05/2023, o índice recuou para 9,07%, indicando um maior poder de compra dos brasileiros.

O Estado de Mato Grosso se manteve na liderança, seguido por Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Portanto, o preço do etanol é mais baixo nesses estados. Cabe destacar que são regiões produtoras de etanol, o que contribui para que o combustível seja mais barato nestas localidades, já que os custos de escoamento são mais baixos. Outro destaque positivo é o Rio Grande do Sul, que subiu 5 posições no ranking semanal.

Por outro lado, Rondônia e Roraima continuam figurando as piores capacidades de pagamento em relação ao etanol. Além disso, o estado de Santa Catarina, também é destaque negativo, já que a capacidade de pagamento piorou. Na semana passada, era necessário 10,82% do salário mínimo para comprar 1 litro de etanol, enquanto nesta semana o valor subiu para 11,05%. Por isso, Santa Catarina possui a terceira pior capacidade de pagamento em relação ao etanol. Por fim, não foi divulgado pela ANP o preço médio do etanol no Amapá em 20/05/2023, impossibilitando o cálculo do indicador para o estado.

 

O reajuste de preços do GLP, anunciado pela Petrobras em 16/05/2023, também parece não ter chegado aos consumidores finais em 20/05/2023. Quatro dias após o reajuste, o botijão de 13kg apresentou redução de preço de apenas 0,11% (equivalente a R$ 0,12). Nesse sentido, o indicador de capacidade de pagamento nacional não mudou na última semana, sendo ainda necessário trabalhar 2,47 dias, com base em um salário mínimo, para comprar um botijão de GLP. Assim como acontece com a gasolina, os reajustes chegam aos consumidores com certo atraso. Portanto, espera-se que na próxima semana os indicadores de capacidade de pagamento nacional e estaduais apresentem melhorias.

Rio de Janeiro e Pernambuco mantiveram-se no topo do ranking de melhores capacidades de pagamento. A novidade desta semana é o Maranhão, em que o indicador recuou em 0,11 em relação à semana anterior. Na extremidade oposta, houve mudança no grupo de estados com pior capacidade de pagamento. Enquanto na semana passada a lista era comporta por Roraima, Rondônia e Amazonas, esta semana Mato Grosso e Tocantins entraram na lista . Roraima, no entanto, continua ocupando a última posição, sendo necessários trabalhar 3 dias para comprar um botijão de 13kg de GLP.

3. Indicador de Competitividade do Etanol frente à Gasolina

Na análise do dia 20/05/2023, Mato Grosso e Amazonas continuam sendo os estados onde é mais econômico abastecer com etanol. No entanto, o índice do Amazonas está no limite de 0,7, devido a um preço médio de revenda da gasolina bastante elevado, de R$6,56. Em outros estados, como por exemplo, o preço médio da gasolina não ultrapassa R$6,00 (exceto o Acre com R$6,39, mas esse valor também é compensado pelo preço elevado do etanol).

Para os estados de São Paulo (0,724), Acre (0,746), Minas Gerais (0,74) e Goiás (0,736), destacados em cinza claro no Mapa, a gasolina é relativamente mais competitiva. No entanto, devido à forma como o indicador é calculado usando o preço médio de revenda (que pode variar consideravelmente), ainda há uma margem considerável para que o etanol seja competitivo em várias localidades dentro desses estados.

No geral, o indicador apresentou valores superiores a 0,75 para a maioria dos estados, com uma média aritmética de 0,8. Conforme mostrado no mapa abaixo, em 20 dos 27 estados brasileiros, o índice ultrapassa o valor de 0,75, indicando uma grande vantagem da gasolina. No Amapá, em particular, o indicador ultrapassa o valor de 1 (1,039), devido ao preço médio do etanol ser mais alto do que o da gasolina.

É importante ressaltar que a cadeia de produção e distribuição do etanol no Brasil sugere que os preços seriam mais baixos quando os pontos de revenda estão próximos às áreas de produção. Portanto, esperava-se que nas regiões Sudeste e Centro-Oeste o etanol fosse mais vantajoso para os consumidores de veículos flex. Apesar de a competitividade do etanol não ser tão alta quanto o esperado, é nessas regiões produtoras e suas proximidades que os motoristas têm uma margem maior para abastecer com o etanol.

 

Para mais detalhes acerca da metodologia de cálculo dos três indicadores, clique aqui

 

Sugestão de citação: Raeder, F.; Souza, L. O.; Alves, B. A.; Amaral, L. Indicadores Semanais dos CombustíveisBoletim de Indicadores, 3ª semana de maio/2023. Ensaio Energético, 24 de maio, 2023.

Autor Fixo e Editor dos Indicadores do Ensaio Energético. Formado em Economia, Mestre e Doutorando em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É professor substituto da Faculdade de Economia da UFF e pesquisador do Grupo de Energia e Regulação (GENER/UFF).

Letícia Souza

Estudante a nível de bacharelado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Fluminense e integrante do Grupo de Pesquisa em Energia e Regulação (GENER/UFF).

Bruno Alves

Estudante a nível de bacharelado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Fluminense e integrante do Grupo de Pesquisa em Energia e Regulação (GENER/UFF).

Luma Amaral

Graduanda em Economia pela UFF, é aluna pesquisadora do Grupo de Energia e Regulação (GENER/UFF) e estagia na área de Inteligência de Mercado na Eneva.

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