Em 2015, a Petrobras estava em uma situação financeira delicada que teve como principal causa a combinação do compromisso muito elevado de investimentos e de preços controlados dos derivados, abaixo dos níveis internacionais. Como resultado, a razão dívida líquida – Ebitda superou 5, quando a empresa se tornou a operadora de petróleo mais endividada do mundo.
Para contornar a crise, a gestão da empresa priorizou o lado financeiro e foi voltada a reduzir o endividamento, focando sua atuação em campos do pré-sal e vendendo ativos. Para recuperar a atratividade para acionistas, a empresa se comprometeu com elevado pagamento de dividendos.
Os dados do balanço de 2022 mostram que a empresa se encontra em situação totalmente distinta da de 2015. O lucro líquido em 2022 foi de US$ 34 bilhões e foram pagos US$ 33 bilhões de dividendos aos acionistas. A razão dívida líquida – Ebitda fechou o ano em 0,63. As medidas de recuperação tomadas a partir de 2015 já não são mais necessárias.
No entanto, na definição dos novos rumos para a Petrobras é fundamental que as lições da crise de 2015 sejam consideradas.
Um aspecto muito enfatizado na nova estratégia para a Petrobras é sua contribuição para a transição energética brasileira. Nos últimos anos, enquanto a Petrobras concentrava sua atuação em petróleo e gás, particularmente nos campos do pré-sal, as operadoras internacionais, principalmente as europeias, diversificavam seus portfólios incorporando energias renováveis com o objetivo de se tornarem empresas de energia. Superada a crise, seria o momento de a Petrobras buscar a mesma trajetória.
É preciso destacar que a Petrobras não é imprescindível para a transição energética brasileira. Mesmo sem a contribuição da Petrobras, o país ocupa um papel de liderança na difusão de fontes renováveis na matriz energética, que alcança quase 50% do consumo de energia no Brasil, frente a uma média global de 15%. O sucesso dos parques eólicos no Nordeste e o boom de painéis solares no Brasil não tiveram qualquer influência da Petrobras.
O papel da Petrobras na transição não está nas “frutas que estão ao alcance das mãos”, como a energia solar e a eólica on shore. As vantagens de capacitação tecnológica são importantes para o desenvolvimento de tecnologias renováveis que ainda não estão maduras, como hidrogênio (verde) e biocombustíveis avançados.
Seja para liderar o aproveitamento do pré-sal ou para desenvolver tecnologias críticas para a transição energética, é importante que a empresa tenha saúde financeira. E além desses objetivos, a nova gestão da Petrobras também busca ampliar a capacidade e descarbonizar o refino e retomar o papel indutor da empresa para a indústria nacional. Nesse sentido, a precificação de derivados deve ser capaz de gerar recursos para investimentos nessas frentes e não repetir a armadilha de 2015.
Frequentemente, a política de preços de paridade internacional tem sido questionada e, recentemente, uma nova proposta baseada na competitividade interna dos combustíveis foi apresentada como alternativa. Ainda que detalhes de uma nova metodologia não sejam conhecidos, já foi anunciado que o preço de derivados deve proteger a participação de mercado da Petrobras.
Convém considerar que a precificação de paridade de importação corresponde ao equilíbrio competitivo em um mercado que necessita complementar a oferta doméstica com importações, já que o custo de importação corresponde ao custo marginal de atendimento da demanda. Como os livros textos indicam, fornecedores com menores custos, caso da Petrobras, não devem ter suas vendas “contestadas” pela oferta de maior custo (importações). Ou seja, o Preço da Paridade de Importação (PPI) é compatível com a estratégia de “proteção” do mercado doméstico pela Petrobras.
É interessante que a política de preços de derivados não repasse instantaneamente a volatilidade dos preços internacionais para o mercado doméstico e a sistemática de precificação tem evoluído nesse sentido ao espaçar os reajustes de preços em períodos mais longos, assim como a transformação de impostos percentuais (ad valorem) em impostos fixos pela quantidade (ad rem). No entanto, é fundamental que os preços dos derivados não se descolem dos níveis internacionais para manter o fôlego da Petrobras para implementar seus novos rumos.
Sugestão de citação: Losekann, L. D. (2023). Novos Rumos para a Petrobras. Ensaio Energético, 10 de abril, 2023.
Conselheiro Editorial do Ensaio Energético. Economista e doutor em Economia pela UFRJ. Professor e coordenador do Programa de Pós Graduação em Economia e Vice Diretor da Faculdade de Economia da UFF. Pesquisador do Grupo de Energia e Regulação (GENER/UFF).
[…] entanto, conforme já explorado em artigo anterior no Ensaio Energético, o preço competitivo em mercado importador de combustíveis deve se alinhar ao preço de […]